Patrono – Cadeira 01

Patrono - Alberto de Oliveira


   Nasceu em 1859, em Palmital de Saquarema, no Rio de Janeiro. Cursou Medicina, mas formou-se em Farmácia, em 1883 e nunca exerceu a profissão. O mais parnasiano dos poetas brasileiros, estreou em 1878, ainda estudante, com o volume Canções românticas, mas só publicaria seu primeiro livro parnasiano, Meridionais, em 1884. Sua poesia se caracteriza pela objetividade. É descritiva, impassível. Descreve objetos decorativos e aqueles em que revela a natureza brasileira. Foi funcionário público e professor de língua e literatura e ocupou o cargo de diretor-geral da instrução pública do Estado do Rio.
   Homem grave, comedido e elegante, sempre se esquivou dos cafés, da vida noturna e da boêmia (como era comum à sua geração). Dividia-se entre as obrigações domésticas e as de professor, entre a vida de acadêmico – sóbria e discreta – e a de leitor dos clássicos em edições raras. Seu amor à língua era paixão e culto, daí o apuro e rigor da forma com que revestiu suas obras. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Faleceu em Niterói, em 1937.
   Alberto de Oliveira teve o privilégio de viver sua infância e adolescência entre o mar e a exuberante mata atlântica, no Estado do Rio. Esse binômio de expansão e infinito combinado com montanhas e florestas despertam os desafios da sua alma poética, dando-lhe um sentido de amplidão e perplexidade. Ao lado de Raimundo Correia e Olavo Bilac, forma a famosa “tríade parnasiana”. Representante máximo de uma das melhores épocas da poesia brasileira. Muitos dos seus poemas eram peças obrigatórias nas rodas literárias da poesia nacional, principalmente Alma em flor e Vaso Grego.
   O parnasianismo no Brasil é embrionado com a publicação de a Visão dos tempos e das tempestades sonoras de Teófilo Braga em 1864, e de Odes Modernas, de Antero de Quental. Em 1870, surge ao norte, especialmente em Pernambuco, a organização doutrinária dessa tendência contrária ao Romantismo. É a poesia científica ou filosófica, expressa por Sílvio Romero, Martins Júnior, Prado Sampaio e outros. Antes de se falar em parnasianismo falava-se em Realismo, palavra de ordem da nova geração. Era a transição. O triunfo do espírito científico, a procura da objetividade sobre a concepção espiritualista, a preocupação social, a reflexão filosófica, a abominação da melancolia, o ardor carnal, a crença na razão, o amor à liberdade, o maior polimento da linguagem.
   Inspira-se na literatura francesa, com Baudelaire, Gautier, Leconte de Lisle, justapondo-se à corrente portuguesa, com Antero de Quental, Guerra Junqueiro e Teófilo Braga. A famosa política coimbrã do Bom Senso e Bom Gosto. O nome de Parnaso ou parnasiano vem de Parnassus, monte da Fócida na Grécia, onde segundo a lenda residiam os poetas.
   O parnasianismo no Brasil cristaliza-se como escola com Alberto de Oliveira, publicando Meridionais em 1884, e Sonetos e poemas, em 1886.
   Em seguida em 1887, Raimundo Correia publica Versos e versões e, finalmente, em 1888, Olavo Bilac, lança a primeira edição de Poesias. Triunfava a escola parnasiana brasileira.
   Para eles, o Romantismo era um defunto em decomposição, gelatinoso, de uma meiguice dengosa e chorona, a que a visão parnasiana se opunha com uma percepção e postura mais realistas. E Mestre Machado defendia a posição parnasiana em relação ao Romantismo: “Eles abriram os olhos ao som de um lirismo pessoal, que salvas as exceções era a mais enervadora música possível, a mais trivial e chocha. A poesia subjetiva chegara efetivamente aos derradeiros limites da convenção, descera ao brinco pueril, a uma enfiada de coisas piegas e vulgares”.
   Alberto de Souza, um crítico-poeta, dizia do Romantismo: “Os românticos não suportam os parnasianos porque não os entendem. Coitados, pensam que a alma humana é só o sentimento e a lágrima, e não falam, porque não ouvem com certeza, da música, da rima, da harmonia do metro, da variação das vogais, da escolha dos vocábulos, de tudo enfim, que seria longo dizer, que, dando verso ao som, forma, movimento, cor, vida real mais que humana, cria essa coisa inefável e sublime que se chama – Poesia”.
   Como tudo é cíclico no universo, a fase parnasiana também começa a declinar. A corrente modernista encorpa-se. Alberto de Oliveira, único poeta parnasiano que ainda vive, é ridicularizado vezes sem conta. Um dos que o criticam é Agrippino Grieco, cuja mordacidade é de estremecer qualquer poeta. Diz ele sobre Alberto: “O exato, porém, é que, mesmo chamando-o de poeta de geladeira, dos que espirram rapé na primavera florida, de panteísta de quintal burguês, de glória universal no seu quarteirão, nunca pude arrancar da memória duas dúzias de versos desse patrício. Seu mal deve ter sido o do classicismo livresco, cerebral, o costume vicioso de exprimir emoções modernas em métrica e sintaxe arcaicas”.
   Entretanto vejam os senhores, o mesmo Agrippino, em outro trecho, reconhece em Alberto, o talento. Diz ele: “E examinando bem os seus textos, encontraremos a delicadeza, será a sua faculdade lírica predominante, e quando ele se esquece dos deuses gregos, fechando o seu panteão cero plástico e olha as árvores do Brasil sem excessos de botânica ou nos descreve amores juvenis sem paralelos clássicos, sem falar em faunos, silvanos e egipanos; quando em vez de beber vinhos de Chipre em taças “escultadas” bebe água da serra em folha de taioba, mostra-se adorável de graça, frescura e ternura. Deixando de ser arcadiano e patriarcal, é encantador”.
   O mais assombroso é que isso não o feriu, ele sabia entender os arroubos dos novos ares. Alberto, antes de entrar na poesia parnasiana fora um romântico. Já conhecia essas mudanças de estilos que, de repente, começam a cansar a alma dos seus cultores. A força das novidades é avassaladora. No seu amadurecimento, entretanto, ele sabia que a poesia era um só corpo expressado de outras maneiras. Interessante frisar que, em 1922, ano em que ele foi eleito pela Academia Brasileira de Letras, o Príncipe dos Poetas Brasileiros, eclode o movimento modernista e Manuel Bandeira, o seu líder maior, escreve-lhe uma carta em que diz, entre outras coisas: “Mestre, perdoa...”.
   Aos poucos, o seu lirismo amoroso foi desaparecendo e a escola, reconhecendo as suas limitações. A preocupação social que colorira os anos de glória do movimento enfraquece, chega quase a desaparecer. Orientam-se os parnasianos no princípio da Arte pela Arte. Isso só não basta, asfixiam-se no rigor da métrica. Os seus pássaros alados precisavam romper as gaiolas de uma sintaxe obsoleta.
   E Alberto com estado de espírito alterado, desabafa num de seus versos:
   “Pena imprestável, quebra-te! Adormece/ Lira inútil, a um canto! Arte divina, Arte do verso, eu te dispenso agora; Nada exprimes de nós quando a alma cresce, Como o oceano revolto, à dor que a mina, À angústia que a solapa e que a devora”.
   Isso nos leva a fazer uma reflexão profunda, sobre as correntes literárias o seu apogeu e as quedas dos seus voos livres, comprometida,
dialeticamente, com a gravidade embutida no tempo; o declínio de uma fase e com ela os seus pilares.
   Contudo o Parnasianismo deixou marcas profundas, e a isso se refere o mestre Alfredo Bosi dizendo: “O homem comum prefere o jogo das impressões visuais ao jogo das impressões abstratas. Prefere o quadro, a cena, o retrato parnasiano, dando pouca atenção às expressões subjetivas, simbólicas ou modernistas”. Dentro desse enfoque, Alberto de Oliveira, mantendo a fidelidade ao Parnasianismo, foi e ainda é um dos poetas tão ao gosto do homem do povo.
   Concluindo, nosso poeta teve seus anos de glória. Seu feitio de não arredar pé, de não permitir que sua alma se entregasse às novas fronteiras, acabou por torná-lo a última bandeira viva do trio clássico parnasiano. Apesar de se deixar influenciar pelo rigor da métrica, o poeta da delicadeza, de alma inquieta e universal, compõe estes versos de “Alma em flor”, na exaltação arquetípica da sua mais profunda Anima:
    “Que ânsia de amar me ensina/ A fecunda lição decoro atento/ já com liames de fogo ao pensamento/ Incoercível desejo ata e domina. Em vão procuro espairecer ao vento/ olhando o céu, os morros, a campina/ Escalda-me a cabeça e desatina/ Bate-me o coração como em tormento. E à noite/ Como em mal sofreado anseio/ Por ela, ainda velada, a misteriosa mulher, que nem conheço, aflito chamo! E sorrindo-me ardente e vaporosa/ Sinto-a a vir ( vem em sonho) une-me ao seio/ Junta o rosto ao meu rosto e diz-me: - Eu te amo”.