Patrono – Cadeira 09

Patrono - Joaquim Nabuco


   Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, quero, neste momento, falar algumas palavras sobre o patrono da cadeira número 9 desta Academia, que passo a ocupar agora, o ilustre tribuno aristocrático, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo.
   Joaquim Nabuco, como todos o conhecemos, nasceu na cidade de Recife, no velho sobrado na Rua do Aterro da Boa Vista, atual Rua da Imperatriz Tereza Cristina, no ano de 1849. Era filho de José Tomás Nabuco de Araújo, um dos políticos mais influentes no Segundo Reinado, que chegou a ser Ministro da Justiça em 1853. Os Nabuco de Araújo (família do pai) eram uma influente família baiana que dava senadores ao Império desde o Primeiro Reinado. Os Paes Barreto (família da mãe) constituíam uma família de grande influência em Pernambuco, desde o século XVI. O menino Joaquim Nabuco foi batizado pelos senhores do Engenho Massangana, Joaquim Aurélio Pereira de Carvalho e dona Ana Rosa Falcão Carvalho. Esta madrinha teve muita influência sobre a sua formação, pois, muito criança, ficou sob os cuidados dela quando os pais viajaram para a Corte. Joaquim Nabuco passou a infância no Engenho Massangana, até a morte da madrinha, onde teve contato íntimo com a escravidão, vendo a sua crueldade e o mal que fazia aos homens, às mulheres e às crianças. Com a morte da madrinha, transferiu-se para a residência dos pais no Rio de Janeiro, onde realizou os estudos de nível primário e secundário, este último na cidade de Nova Friburgo. Bacharelou-se em Letras pelo Colégio Pedro II. Em 1866 veio para São Paulo e iniciou os estudos de Direito na Faculdade de São Paulo, destacando-se como orador, entre os colegas. Assim, a 2 de abril de 1868, foi o orador que saudou José Bonifácio, o moço, quando este regressou à sua cidade, após perder o lugar de ministro, com a queda do Gabinete Zacarias. Em 1869 transferiu-se para a Faculdade de Direito de Recife, onde se aproximou dos parentes maternos e de amigos.
   Criado num ambiente familiar marcado por discussões políticas onde predominava o liberalismo, desde cedo manifestou sua vocação abolicionista. Foi nessa época que escreveu A Escravidão, que permaneceu inédito até 1988, quando foi publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, (setenta e oito anos após a sua morte, em 1910). Diplomado em Ciências Sociais e Jurídicas em Recife, retornou ao Rio de Janeiro, para advogar junto ao pai e iniciando-se no jornalismo em A Reforma, defendendo princípios monarquistas. Em 1872 publicou o seu primeiro livro, que recebeu o nome de Camões e os Lusíadas, com 294 páginas. Em 1876 obteve o seu primeiro cargo público, adido de legação nos Estados Unidos, onde na velhice seria embaixador. Em 1878 foi eleito deputado geral pela Província de Pernambuco, passando no ano seguinte a participar do parlamento, com grande destaque em função de sua origem, sua oratória e da independência junto ao seu próprio partido político. Ao lado de outros jovens deputados, colegas e outros literatos, começou a campanha pela abolição da escravidão. Nessa época combateu um projeto de exploração do Xingu, defendendo os indígenas. Em 1880 proferiu brilhante discurso, como orador oficial, no Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, durante a comemoração do terceiro centenário de Camões. Em 1880 criou e instalou em sua residência a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, desafiando a elite conservadora da época, que considerava a escravidão como uma necessidade para o desenvolvimento do Brasil. Com isso, desentendeu-se com o seu partido Liberal e acabou por perder as eleições para a Câmara dos Deputados. Desiludido, partiu para Londres, onde viveu como advogado e jornalista representante do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Lá, escreveu um dos seus principais livros, O Abolicionismo, publicado em 1884. Nesse ano de 1884 voltou ao Brasil e realizou a campanha para a nova eleição, defendendo a causa do abolicionismo. Os discursos dessa época foram reunidos no livro A Campanha Abolicionista, publicado em 1885. Venceu as eleições contra o adversário conservador, mas foi expurgado pela Câmara. Ele voltou à Câmara pela renúncia dos chefes liberais Ermírio Coutinho e Joaquim Francisco de Melo Cavalcanti. Continuou trabalhando em prol da abolição da escravidão. Ele, que era monarquista, começou a identificar a monarquia com a escravidão e começou a fazer sérias críticas ao governo. Nessa época escreveu: O Erro do Imperador, O Eclipse do Abolicionismo e Eleições Liberais e Eleições Conservadoras, publicados em 1886. Em 1888 deu grande apoio à aprovação da Lei Àurea. Em 1889 casou-se, no Rio de Janeiro com dona Evelina Torres Soares Ribeiro, filha do barão de Inhoã. Nesse mesmo ano foi eleito deputado por Pernambuco, sem ir a Recife e sem solicitar apoio do eleitorado, para a última legislatura do Império. Nessa época começou a desiludir-se da política e temia pela queda da Monarquia, a quem era fiel, embora procurasse liberalizá-la e não poupasse críticas à instituição e ao próprio Imperador. Em 1891 surgiu o Jornal do Brasil, fundado por Rodolfo Dantas, com a finalidade de bem informar o povo e de defender, de modo moderado, a restauração da Monarquia. Voltou a trabalhar como advogado, com o colega João Alfredo, mas não foi bem-sucedido. Viajou para a Inglaterra, onde viveu por vários anos e onde passou a freqüentar cerimônias religiosas, que havia abandonado há vários anos. Escreveu o livro Minha Fé, publicado, somente, em 1986 pela Fundação Joaquim Nabuco.
   No auge das disputas entre monarquistas e republicanos, escreveu o opúsculo O Dever dos Monarquistas. O período de 1893 a 1899 foi o da grande atividade intelectual de Nabuco. Escreveu Balçameda, publicado em 1895, sobre a guerra civil no Chile, A Intervenção estrangeira na Revolta de 1893 (publicado em 1896), Um estadista do Império (1896), seu principal livro, onde analisa a vida do senador Nabuco de Araújo e a vida política, econômica e social do país durante a atuação do mesmo. Escreveu, também o seu livro de memórias, intitulado, Minha Formação, publicado em 1900. Em 1896 participou da fundação da Academia Brasileira de Letras, que teve como seu primeiro presidente, Machado de Assis e, Nabuco, como secretário perpétuo. Em 1896 ingressou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em 1899 aceitou convite do governo da República para defender o Brasil na questão de limites com a Guiana Inglesa. Com isso, iniciou um processo de afastamento do grupo monarquista e começou a sua conciliação com a República.
   Com a morte de Souza Correia ministro brasileiro na Inglaterra em 1900, foi convidado para ocupar o lugar dele. Foi para a Inglaterra como funcionário da República com o cargo de plenipotenciário em missão especial, aceitando a seguir o cargo da chefia da legação em Londres. Em 1903 publicou em Paris o livro O Direito do Brasil (primeira parte). Nesse livro analisou as razões do Brasil na contenda com a Inglaterra a respeito dos limites Brasil, Guiana Inglesa. Em 1905 foi criada a Embaixada do Brasil em Washington. Ele foi para lá, como embaixador do Brasil e ligou-se muito ao governo norte-americano defendendo uma política pan-americana, baseada na doutrina de Monroe, que pregava a América para os americanos. Nessa época viajou muito pelos Estados Unidos, onde fez inúmeras palestras nas universidades americanas.
   Em 1906 organizou a III Conferência Pan-Americana, realizada no Rio de Janeiro, com a presença do Secretário de Estado dos Estados Unidos. Morreu em 1910, após um longo período de doença.
   Esta é a história resumida da trajetória deste grand
e brasileiro, Joaquim Nabuco, um dos grandes defensores do abolicionismo no Brasil. Nabuco, homem vibrante de atitudes decididas, que viveu intensamente o seu tempo. Conviveu com outros grandes vultos da nossa história, tais como Rui Barbosa, Castro Alves, Tobias Barreto, Rodrigues Alves e Afonso Pena. Estes dois últimos chegaram a ser o quinto e o sexto, presidentes da República do Brasil. Tobias Barreto, ao se referir a Joaquim Nabuco, disse: “Havia nele alguma coisa de fascinante, moço de cerca de trinta anos, grande, forte, elegante, de rara beleza varonil, voz poderosa, límpida e sonora, o gesto sóbrio, possuía ao demais um quê de exótico, algo da exterioridade inglesa, e ao mesmo tempo o ardor dos tribunos latinos, a imaginação exaltada dos meridionais, a abnegação, o desprendimento quixotesco de um cavaleiro espanhol.”
   Este foi Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, patrono da cadeira número 9 da nossa Academia Ribeirãopretana de Letras.