Patrono - Oswald de Andrade
O movimento modernista no Brasil eclodiu em 1922, a partir da “Semana de Arte Moderna”, realizada em São Paulo. Esse movimento, que teve três fases, marcou-se inicialmente por um caráter revolucionário que dominou a primeira fase, que assim permaneceu até 1930; é a fase da destruição. A segunda fase, a partir de 1930, vive o momento da construção de uma nova estética. Em 1945 tem início a terceira fase, que se caracteriza pelo aprimoramento formal.
No burburinho estético da primeira fase, surge Oswald de Andrade, revolucionário por natureza e por isso mesmo bem integrado às novas ideias, junto a Mário de Andrade, Menotti del Picchia e outros.
José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, na atual avenida Ipiranga, nº. 5, no dia 11 de janeiro de 1890 e, após vários casamentos, três filhos e três netos, faleceu em São Paulo, em 1954, ano em que se comemorou o quarto centenário da cidade. Estudou no Ginásio de São Bento, onde recebeu o título de Bacharel em Ciências e Letras, e foi aí também que o velho professor Gervásio de Araújo profetizou que Oswald seria escritor. E assim foi!
Em 1909, o jornal “Diário Popular” publicou seu primeiro artigo: “Penando” - uma reportagem da excursão do presidente Afonso Pena aos estados do Paraná e Santa Catarina.
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em 1919, tendo sido Orador do Centro Acadêmico Onze de Agosto, mas nunca advogou; continuou jornalista.
Em 1916, publicou, com Guilherme de Almeida, seu primeiro livro: duas peças em francês e Suzanne Desprès representou um ato de “Leur Âme” no Teatro. Municipal de São Paulo, sem manifestação alguma do público nem da crítica.
Filho de família burguesa, viaja à Europa, onde entra em contato com as novas ideias artísticas e traz de lá o “Manifesto futurista” de Marinetti. Seu espírito revolucionário começa a articular um novo movimento estético, antes de se pensar na famosa “Semana de Arte Moderna”. Com a “explosão” da exposição de Anita Malfatti, assume sua defesa contra o violento ataque que lhe fez Monteiro Lobato. Propõe uma literatura participante e junta-se a Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti e Brecheret, para criar a “Semana”.
Em 1922, além de sua participação na “Semana de Arte Moderna”, publicou seu primeiro romance, , “Os Condenados” que, junto a “Estrela do Absinto” e “A Escada Vermelha”, integra a Trilogia do Exílio.
Suas obras rompem a sintaxe e a regência tradicionais; exibem uma linguagem telegráfica em capítulos relâmpagos com conteúdo sarcástico.
O “bon vivant”, fruto do “enfant gâté” da burguesia paulistana, passou tempos alternando companheiras famosas, como Isadora Duncan em cujo sapato tomou champanhe, ou Deise, a “Miss Ciclone” da “garçonière” da rua Libero Badaró, no período da I Guerra Mundial, , com quem se casou “in extremis”, no leito do hospital em que ela estava internada por causa de um aborto mal sucedido.
Após a “Semana de Arte Moderna”, Oswald volta à Europa, onde costumava passar suas férias. Nasce, então, seu romance “Memórias Sentimentais de João Miramar” (1924), que rompe os modelos tradicionais.
Em uma nova volta à Europa, descobre em Paris sua poesia Pau-Brasil e em seus poemas-pílulas mistura a linguagem antiga pós-descobrimento com a linguagem atual, sempre irônica. Encontra, então, Tarsila do Amaral, que o coloca em contato com figuras de destaque das vanguardas europeias e acaba por tornar-se sua esposa. O renomado casal promove festivas reuniões culturais em sua mansão da alameda Barão de Piracicaba, em São Paulo, num ambiente de luxo e ostentação. O famoso quadro Abaporu, que Tarsila pintou em 1928, levou à criação mais radical do Modernismo, a “Antropofagia”. Mas a crise econômica de 1929finalizou a fase festiva de Oswald, que perdeu tudo e faliu literalmente.
A preocupação sócio-política encaminha-o para o Partido Comunista e preenche com ideias esquerdistas seu jornal “O Homem do Povo”. No teatro, lança “O Rei da Vela”, e seus romances “Serafim Ponte Grande” e “Memórias Sentimentais de João Miramar” exibem os ideais do Modernismo, seguindo o “Manifesto Pau-Brasil” (1925) e o “Manifesto Antropofágico” (1928). Aquela prega uma poesia autóctone, voltada para nossa terra; esse retoma os mesmos princípios, pregando a ingestão da arte forasteira para poder digerir essa energia, iluminando a arte nacional.
Em Pagu, Patrícia Galvão, sua grande paixão, encontra a companheira ideal para compartilhar suas preocupações sócio-políticas. E essa seriedade temática convive com a presença constante do humor em sua poesia.
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Novo casamento, agora com a poetisa Julieta Bárbara, com quem vai para a Europa em 1939, a fim de participar do congresso dos Pen Clubes, realizado na Suécia.
Com o início da II Guerra Mundial, Oswald volta ao Brasil e passa a redigir os romances que constituirão a série “Marco Zero”: I – “A Revolução Melancólica”, 1943; II – “Chão”, 1946.
Em 1942, já casado com Maria Antonieta d’Alkmim, para ela escreve o “Cântico dos Cânticos para Flauta e Violão”. Mais sério, nessa década de 40 e na de 50, passa a escrever as teses de concurso para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (Universidade de São Paulo), onde chega a professor livre-docente de literatura: “A Arcádia e a Inconfidência”, “A Crise da Filosofia Messiânica” e “A Marcha das Utopias”. Nessa mesma época, escreve “O Escaravelho do Diabo”, de conteúdo espiritual.
Mesmo passando por inúmeras variações sentimentais, econômicas e sociais, Oswald de Andrade marcou o movimento modernista no Brasil, com sua determinação de destruir a literatura tradicional, estática, regrada, para mostrar uma arte livre, sem padrões fixos, irreverente e sarcástica. Tem mais obras publicadas, além das que aqui foram citadas.
Ribeirão Preto, 27/12/2020 (domingo – 23h.51m.).